As diretrizes para o rastreamento do câncer cervical em indivíduos transgêneros, especialmente homens trans que mantêm o colo do útero, seguem as recomendações para mulheres cisgênero. A American Cancer Society recomenda que pessoas com colo do útero comecem o rastreamento aos 25 anos, com um teste primário de HPV a cada 5 anos, até os 65 anos. Caso o teste primário de HPV não esteja disponível, o coteste (HPV e citologia) a cada 5 anos ou a citologia isolada a cada 3 anos são alternativas aceitáveis.
A literatura aponta que indivíduos transmasculinos enfrentam barreiras significativas para o rastreamento, incluindo desconforto físico e psicológico durante o exame e o medo de discriminação. Uma opção para melhorar a adesão é a auto-coleta de amostras para detecção de HPV, uma alternativa aprovada pela FDA nos EUA, que pode ser mais confortável para essa população.
Criar um ambiente inclusivo e utilizar linguagem afirmativa de gênero são ações fundamentais para profissionais de saúde que buscam aumentar a adesão ao rastreamento e reduzir disparidades de saúde.
Principais fatores de risco para câncer cervical em homens trans com colo do útero:
- Infecção por HPV: A infecção por HPV de alto risco é um fator determinante, estando associada a quase todos os casos de câncer cervical. Estudos mostram que o contato sexual receptivo com pênis aumenta significativamente o risco de infecção por HPV em homens trans.
- Aderência ao Rastreamento: A baixa adesão ao rastreamento regular é um risco relevante. Homens trans frequentemente evitam o exame de Papanicolaou devido ao desconforto e medo de discriminação, o que pode atrasar diagnósticos.
- Uso de Testosterona: O uso de testosterona pode alterar a mucosa vaginal, causando amostras insatisfatórias no exame de Papanicolaou, o que pode dificultar um rastreamento eficaz.
- Comportamentos de Risco: Há uma prevalência maior de uso de substâncias e infecções sexualmente transmissíveis entre pessoas transgênero, elevando o risco de câncer cervical.
- Barreiras Sociais e Econômicas: Disparidades sociais, como o acesso limitado à saúde e a discriminação, afetam diretamente o risco e os desfechos do câncer cervical.
Esses fatores destacam a importância de estratégias de rastreamento individualizadas e sensíveis ao gênero para melhorar a adesão e reduzir as desigualdades na saúde dessa população.
Referências:
- Cervical Cancer Screening for Individuals at Average Risk: 2020 Guideline Update From the American Cancer Society
- Strategies to Optimize Cervical Cancer Screening Rates Among Transgender and Gender-Diverse People Assigned Female at Birth